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Saiba como o 11 de Setembro mudou a forma de tratar pacientes com traumas

Ataques às Torres Gêmeas contribuíram para rever atenção e cuidado de pacientes que sofrem do transtorno de estresse pós-traumático, segundo especialistas

Lucas Rocha | CNN


Há 20 anos, o mundo presenciava o horror de um dos maiores ataques terroristas da história. O 11 de Setembro marcou uma geração que pôde acompanhar ao vivo, pela televisão, o desfecho das ações coordenadas pelo grupo terrorista Al Qaeda, então liderado por Osama Bin Laden, que levaram à morte de quase 3 mil pessoas nos Estados Unidos.

11 de Setembro tornou o transtorno de estresse pós-traumático uma palavra familiar, segundo especialista americana | Nik Shuliahin/Unsplash

Além dos impactos imediatos para aqueles que acompanharam a tragédia, como o choque e a consternação diante dos acontecimentos, especialistas em saúde mental destacam que os ataques às Torres Gêmeas de Nova York também contribuíram para reformulações na atenção e no cuidado de pacientes que sofrem do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Segundo os especialistas, os ataques trouxeram à tona um grande sentimento de vulnerabilidade, especialmente por tirar a vida de pessoas que estavam realizando algumas de suas atividades cotidianas, como a rotina do escritório ou uma viagem de avião.


Entenda o que é o transtorno de estresse pós-traumático

O psiquiatra Antonio Egídio Nardi, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) pode acometer pessoas de qualquer idade após a vivência de um evento que, em geral, envolve o risco de morte. Segundo Nardi, os principais sintomas são insônia, irritabilidade, mudanças de humor e inquietação inesperada.

“A pessoa apresenta sintomas que duram um tempo longo, como pesadelos, memórias intrusivas, que é relembrar ou reviver a experiência traumática. Ela volta a sentir as mesmas emoções da situação, o que leva a um comportamento de esquiva para situações que lembrem esse evento. A vítima pode ser a própria pessoa ou quem assistiu à situação traumática”, explica Nardi.

Segundo o pesquisador da UFRJ, cerca de 25% das pessoas que vivenciam ou presenciam um evento traumático desenvolvem o transtorno. “Todos nós podemos ser acometidos pelo transtorno de estresse pós-traumático”, ressalta Nardi.

A ciência ainda busca respostas para explicar por que algumas pessoas são mais propensas ao TEPT do que outras. De acordo com Nardi, algumas hipóteses são fatores genéticos, questões hormonais e a própria capacidade do indivíduo de lidar com situações de estresse.

“O fator genético tem alguma capacidade de proteger o indivíduo. O cérebro passa por uma situação de estresse, mas tem uma predisposição para se readaptar às emoções, ao humor, à capacidade de concentração, e aquilo ficar em um segundo plano”, explica. “As questões endócrinas também podem estar relacionadas. O hormônio deidroepiandrosterona é muito pesquisado em relação à depressão e ansiedade e talvez seja um fator importante em relação à nossa resposta ao estresse”, completa.

Para a psicóloga Gabriela de Oliveira Lima, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), o apoio familiar e social também é um fator importante na prevenção ao transtorno de estresse pós-traumático. “A maioria dos transtornos e das queixas do ser humano está vinculada às relações interpessoais. Pessoas que não têm rede de apoio, contato social significativo e protetivo, tendem a desenvolver mais o transtorno”, afirma.

Segundo Gabriela, a intervenção medicamentosa logo após o evento traumático, como o uso de sedativos, pode ter o efeito contrário ao esperado. Embora os remédios possam tranquilizar a pessoa no momento de choque, a medida pode trazer prejuízos e agravar o transtorno de estresse pós-traumático.

“As pesquisas já mostraram que essa sedação, como alívio do momento, aumenta as chances das pessoas desenvolverem o transtorno. Porque é com o enfrentamento que o transtorno não se desenvolve. Apesar das pessoas beberem para esquecer, aí é que o cérebro retém essa memória e ela fica muito mais recorrente”, explica.

Ampliação nos estudos do estresse pós-traumático

A professora de epidemiologia psiquiátrica da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Karestan Koenen, explica que antes do 11 de Setembro, os estudos sobre trauma e transtorno de estresse pós-traumático ainda estavam em emergência.

“Antes do 11 de Setembro, a maioria das pessoas nos Estados Unidos associava o transtorno de estresse pós-traumático aos veteranos do Vietnã, soldados que voltavam da guerra. O 11 de Setembro tornou o TEPT uma palavra familiar”, explica Koenen.

A pesquisadora conta à CNN que era pós-doutoranda na Universidade de Columbia, em Nova York, quando os ataques ocorreram. Segundo ela, antes dos atentados, o TEPT era visto entre os pesquisadores como um nicho de pesquisa não muito relevante.

Os ataques desencadearam discussões mais profundas sobre os tipos de tratamento mais adequados para os pacientes vítimas de trauma, despertando um sinal para questões amplamente discutidas hoje, como o autocuidado e a resiliência.

“A longo prazo, os ataques renovaram o interesse federal na pesquisa de TEPT – tanto por causa de soldados sendo enviados para a guerra quanto por causa do impacto sobre os primeiros respondentes, vítimas civis diretas e as famílias das vítimas”, afirma.

Segundo Koenen, o aumento da atenção e do financiamento permitiu o avanço, nas últimas duas décadas, de pesquisas na área. “Avançou muito nosso conhecimento da fisiopatologia da doença, bem como o desenvolvimento acelerado do tratamento. Isso resultou em mais estudos sobre trauma”, acrescenta.

Como os atentados mudaram o entendimento do estresse pós-traumático

De acordo com a professora de Harvard, os atentados levaram a comunidade científica a repensar e rever estudos de eficácia dos tratamentos existentes à época. Depois do 11 de Setembro, grupos de apoio e organizações foram enviados para Nova York, onde conduziram terapias a partir de debriefing psicológico, sessões em que as pessoas compartilhavam as experiências em grupo.

Havia diferentes versões, mas a maioria envolvia que as pessoas expostas ao trauma compartilhassem suas experiências em um ambiente de grupo. A ideia por trás do tratamento era que, se os indivíduos compartilhassem suas vivências com outras, isso aceleraria o processamento da experiência e evitaria consequências psicológicas negativas de longo prazo.

“Aprendemos com os dados coletados após o 11 de Setembro que o debriefing não impedia necessariamente o TEPT. Em alguns casos, piorava as coisas. Esse padrão de atendimento na época era, na melhor das hipóteses, ineficaz e, na pior, iatrogênico [dano psíquico causado ao paciente pelo médico]”, diz Koenen.

Segundo a especialista, essas descobertas sacudiram o campo do trauma e de resposta a desastres, motivando pesquisas para compreender o processo natural de recuperação dos pacientes. “Acho importante nos lembrarmos de que muitas pessoas que experimentam traumas apresentam sintomas de TEPT, mas nunca desenvolvem o transtorno. É normal sentir angústia após um trauma, o que não requer necessariamente tratamento”, explica.

Tratamentos disponíveis

Os especialistas destacam que um dos desafios da área é entender, diante de eventos traumáticos em grande escala, como o 11 de Setembro, quem está em risco de desenvolver o transtorno de estresse pós-traumático e quem provavelmente ficará bem sem tratamento ou outros tipos de apoio.

“O principal desafio no tratamento é saber por que a maioria das pessoas passa por uma situação horrível e não desenvolve o transtorno de estresse pós-traumático, e se a gente pode, descobrindo tanto os fatores químicos quanto psicológicos delas, ajudar quem passam pelo problema. Isso vem sendo muito pesquisado atualmente”, afirma Antonio.

Koenen afirma que os tratamentos para o transtorno de estresse pós-traumático são diversos e eficazes. “Eles se enquadram no rótulo de terapias cognitivo-comportamentais focadas no trauma. Existem muitos diferentes – alguns fazem você descrever o trauma em voz alta, outros fazem você escrever, mas todos envolvem algum foco no processamento do trauma”, conta.

Outros tipos de terapia consistem na exposição prolongada e na terapia de processamento cognitivo. As duas técnicas são vinculadas a um processo de expor o indivíduo à situação traumática de forma gradual, com o objetivo de provocar a dessensibilização dos pacientes em relação ao evento traumático.

Realidade brasileira

Embora os ataques terroristas não façam parte da realidade brasileira, os especialistas ressaltam que a violência, especialmente nas grandes cidades, é um dos principais fatores que levam ao TEPT no país.

A professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Helena Pereira Franco, relembra o caso da morte das crianças de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e destaca que a exposição à violência pode passar despercebida como gatilho para o transtorno.

“Nós não falamos de segmentos da população que estão continuamente expostos a esses fatos geradores [do TEPT], e o transtorno pode se apresentar como o regular, o comum, o que a gente vê sempre. Isso é preocupante também”, diz a especialista.

Segundo a psicóloga da USP Gabriela de Oliveira Lima, outras causas comuns de TEPT no Brasil são desastres, como o rompimento das barragens em Brumadinho, em 2019; Mariana, em 2015; as chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro, em 2011, além de situações relacionadas a abusos psicológicos, físicos e sexuais.

“As principais consequências de TEPT no Brasil são violência e abusos, são as mais frequentes. Nos Estados Unidos, não que não tenha isso, mas eles são muito focados nos efeitos de guerra, combate e terrorismo, que é algo que eles sofrem mesmo com um volume muito grande”, explica Gabriela.

Quando buscar ajuda

Sentimentos de angústia, tristeza e irritação fazem parte da vida. No entanto, os especialistas explicam que o nível de sofrimento, o comprometimento de atividades cotidianas e o prolongamento dessa condição são indícios que apontam a necessidade de auxílio profissional.

Para a professora da PUC-SP, Maria Helena Pereira Franco, a atenção e o cuidado devem ser redobrados, uma vez que os sinais do transtorno de estresse pós-traumático podem ser diversos e variar de uma pessoa para outra.

“Nem sempre a pessoa expressa o sofrimento de uma maneira que seja decodificada como sofrimento. Pode ficar irritadiça, por exemplo. Mudança de comportamento que chame atenção é importante também. Deve-se observar essas alterações e ficar atento se é possível identificar um fato gerador, mesmo que seja distante no tempo”, afirma.

Para a pesquisadora de Harvard, Karestan Koenen, alguns sinais podem indicar a necessidade de ajuda profissional após um evento traumático. “Se você não sente que não está melhorando com o tempo – ou se sente pior, se os seus pensamentos e sentimentos sobre o trauma estão dificultando a sua ida ao trabalho ou à escola, ou interferindo nos relacionamentos com amigos ou familiares, pode ser um indicativo. Outro sinal é se você estiver bebendo mais ou usando drogas para se sentir melhor”, ressalta.

“Uma pessoa que tem sofrimento emocional, com sintomas como pesadelos, flashbacks, alterações no humor, falta de prazer no cotidiano ou diminuição na capacidade de exteriorizar emoções deve procurar ajuda médica. O sofrimento subjetivo às vezes é muito pior que o físico, e as pessoas tendem a desvalorizar o sofrimento subjetivo”, complementa Antonio Egídio, da UFRJ.

Outro ponto de vista

Para a psicanalista Ana Maria Stucchi Vannucchi, professora e diretora científica da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), o trauma pode ser entendido como toda situação que transcende a dimensão da simbolização. De forma mais simples, isso quer dizer que aquela situação se torna difícil de pensar (ou simbolizar).

A psicanalista explica o funcionamento da mente com uma metáfora do aparelho digestivo que, segundo ela “vai digerir os excessos que são os traumas”. “Uma doença, alguém que você perde, uma separação, tudo isso é traumático”, explica.

De acordo com a especialista, do ponto de vista da psicanálise, o estresse pós-traumático é conduzido como uma das diversas possibilidades de angústia dos indivíduos. “Como psicanalistas, nós buscamos afastar esses diagnósticos. Eles aprisionam a pessoa em uma patologia”, afirma.

Para Ana Maria, as questões associadas à pandemia podem ser mais traumáticas para os brasileiros do que o 11 de Setembro. Ela destaca que contextos destrutivos do mundo externo que impactam a saúde mental, geralmente associados ao risco de morte, ressoam na mente humana e trazem à tona elementos destrutivos, como ódio, medo e raiva, que fazem parte dos indivíduos.

“Isso que eles chamam de estresse pós-traumático seria como se fosse uma tortura que a própria pessoa impõe, como se o passado não ficasse para trás. Aquele ódio e medo vão se reverberando internamente, deixando presente algo que já passou”, ressalta. Segundo a especialista, a terapia psicanalítica pode trazer benefícios nesse contexto.

Desafios para a pesquisa na área

Para os especialistas, a evasão dos pacientes que participam de pesquisas clínicas e a falta de investimento são os principais desafios no estudo do transtorno de estresse pós-traumático.

“Um dos sintomas do TEPT é esquivar ou fugir, enquanto o tratamento é falar sobre. Como profissionais, temos o papel de criar uma relação de confiança, dar o suporte para essa pessoa e medir o nível de exposição ao trauma, mas algumas delas estão muito fragilizadas e suscetíveis. Por isso, a evasão terapêutica é muito frequente”, conta Gabriela, da USP.

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