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Pesquisa identifica doenças mentais em atingidos pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana

Estudo coordenado por pesquisadores da UFMG concluiu que 12% dos entrevistados sofrem de estresse após o trauma do desastre. Entre as crianças e adolescente, o índice chega a 83%.


Por Flávia Cristini | G1 MG, Belo Horizonte

Uma pesquisa sobre saúde mental que entrevistou 271 atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, concluiu que 12% dos afetados pelo desastre sofrem de estresse pós-traumático. Entre as crianças e adolescentes, o índice é maior, chegando a 83%.

Carros e casas vistos em meio a lama após o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco no Distrito de Bento Rodrigues (Foto: Douglas Magno/AFP)
Carros e casas vistos em meio a lama após o rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco no Distrito de Bento Rodrigues (Foto: Douglas Magno/AFP)

Segundo os coordenadores do estudo, a vivência do desastre e as lembranças ainda impactam na rotina dessas pessoas, que apresentaram depressão, ansiedade, insônia, aumento de problemas cardiovasculares e pensamentos suicidas, após mais de dois anos da tragédia, considerada a maior do país. A tragédia em 5 de novembro de 2015 deixou 19 mortos.

“O transtorno de ansiedade é uma percepção de inquietação constante. No estresse pós-traumático, essas pessoas ficam sonhando, de vez em quando tem flashbacks do que aconteceu e isso causa um grande estresse”, explicou o psiquiatra Frederico Garcia, um dos coordenadores da pesquisa.

Pessoas com idades entre dez e 90 anos diretamente expostas à lama foram convidadas a responder questionários nos dias 15, 16 e 17 de novembro de 2017. Ao todo, 479 foram abordadas, das quais 271 aceitaram participar. Quarenta e seis são crianças e adolescentes.

Os entrevistados moravam ou tinham propriedades nos distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Borba, Campinas, Pedras e Ponte do Gama.

O psiquiatra chama atenção para o impacto na vida das crianças. “O mais importante é o estresse pós-traumático, sobretudo em crianças, porque esse tipo de trauma nesta fase da vida, além de marcar muito a pessoa, pode causar um aumento de risco de outras doenças, como dependências químicas e outras complicações que a gente pode ter para frente”, disse.

Ainda segundo a pesquisa, a depressão atinge quase 30% das vítimas. Entre as crianças e adolescente, a incidência é 39%.

O estudo foi realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Vulnerabilidade em Saúde (Naves) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Cáritas Regional Minas Gerais, que é ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presta assistência aos atingidos.

A gravidade dos sintomas, passados mais de dois anos da tragédia, chamou a atenção dos pesquisadores.

“A questão principal é a gravidade dos transtornos dois anos depois. A gente esperaria que essa gravidade fosse menos intensa e, como ela está se mantendo durante o tempo, isso indica que além do fator estressor inicial, que foi a tragédia, outro fator estressor se perdura e, provavelmente, tem a ver com a falta de assentamento dessas pessoas, falta de contato, de identidade pessoal, uma série de coisas que eles perderam junto, na passagem da lama”, disse Garcia.

O estudo afirma que a ansiedade entre as vítimas é maior que os padrões identificados no Brasil pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Nós observamos uma alta prevalência dos transtornos psiquiátricos mentais relacionados ao estresse, depressão, cinco vezes maior do que a população brasileira avaliada pela Organização Mundial de Saúde”, disse a psiquiatra Maila de Castro, que também está à frente da pesquisa.

Ela explica que os casos diagnosticados foram encaminhados para tratamento. Segundo Maila, entrevistados relataram que tiveram acesso a atendimento médico, principalmente, no setor público, após o desastre. Contudo, pela permanência dos sintomas, a pesquisa indica que a assistência não foi satisfatória. Mas há também quem se sentiu desamparado.

Atingido relata sintomas frequentes

O lavrador Mariano D’Ângelo é um dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, que pertence à Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton. Segundo ele, o reconhecimento da condição de afetado pela tragédia veio tarde, cerca de oito meses após a tragédia. No dia do rompimento, a lama invadiu o terreno dele, mas não entrou em casa.

“A lama chegou até a porta. A empresa não me reconheceu como atingido [na época]. Foi todo mundo embora e eu fiquei ali”, disse, lembrando dos vizinhos. Atualmente, ele mora em uma casa alugada pela Samarco, e a família recebe um cartão de assistência financeira.

D’Ângelo conta que passou a ter insônia, perdeu o vigor no trabalho e se tornou diabético após o trauma vivido no dia 5 de novembro de 2015. Ele falou sobre sintomas que se tornaram frequentes.

“Eu fiquei muito emotivo. Não conseguia falar do processo, comecei a dar um branco. Às vezes, tava falando e perdia o raciocínio. Comecei a ficar muito irritado com qualquer coisa. Chegou um tempo que eu senti necessidade de procurar um psiquiatra porque eu não estava bem”, disse.

O lavrador tem saudade da vizinhança e da vida que tinha antes da tragédia. “Fez uma mudança radical na vida de todo mundo. Eu morava 200 metros do meu sogro. O nosso ponto de encontro era lá. Depois do rompimento, a gente nunca mais se reuniu”, desabafou.

Ajuda no processo de indenização

Como representante da Cáritas, Gladson Figueiredo fez críticas à assistência dada aos atingidos. Ele é coordenador operacional da assessoria técnica e tem participação na pesquisa.

“O que a gente percebe é que as empresas têm uma estratégia, aparentemente, de cansar os atingidos, fazer com que o processo se delongue o máximo possível, porque depois os atingidos aceitam qualquer tipo de indenização”, disse Figueiredo.

Ele afirma que o estudo deve subsidiar políticas públicas e vai ajudar no processo de indenização. “A gente espera que esse estudo seja instrumento, tanto na luta de políticas públicas, quanto elemento para justificativas no processo indenizatório dessas famílias que estão sofrendo por dois anos consecutivos”, afirmou.

A Fundação Renova, responsável pela recuperação ambiental e social da área atingida, disse que desenvolve um estudo para avaliar a saúde mental dos moradores das áreas impactadas pelo rompimento de Fundão. "A pesquisa da UFMG soma esforços na definição das medidas de assistência aos atingidos. Em Mariana, a Renova reforça o sistema público de saúde e de atenção social com 50 profissionais", disse a entidade em nota.

Após o rompimento de Fundão, a Samarco foi multada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em mais de R$ 340 milhões. Mas nenhuma foi paga porque a empresa recorreu. Além disso, outras 36 multas foram aplicadas pelo governo de Minas. Uma delas está sendo paga em 60 parcelas, e as outras estão em fase de recurso.

O processo criminal está na Justiça Federal em fase de instrução para ouvir testemunhas. Vinte e uma pessoas foram denunciadas por homicídio qualificado com dolo eventual.

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